Ontem, quando cheguei a Tegucigalpa, estavam velando no sindicato STBYS o corpo de uma jovem companheira que morreu de asfixia devido aos gases lançados pelo exército contra um protesto. Esse sindicato é um dos que têm colocado toda sua estrutura e militância à disposição da luta pelo retorno de Manuel Zelaya à presidência. Mais de 500 pessoas participavam do ato, no qual também estava presente grande parte da direção da luta contra o golpe. Pelo que pude ver, não parece que esse novo assassinato vá mudar a orientação do exército.
O domingo trouxe outras notícias importantes, que saíram em todos os veículos de imprensa. A extradição, ainda do aeroporto, de uma delegação da OEA, foi justificada pelo chanceler, numa entrevista coletiva, como não sendo o momento apropriado para sua presença. E o prazo de 10 dias imposto a todas as representações diplomáticas estrangeiras para que reconheçam o governo golpista, em particular a do Brasil, a qual se pede também que se explicite o que será feito com Zelaya.
Mas, sem dúvida, a notícia mais importante e que traz preocupação à resistência é a implantação do Estado de sítio, que suspende as garantias constitucionais por 45 dias, entre elas, o direito de reunião e o fechamento da rádio Globo e do Canal 36, que são independentes do governo e têm transmitido as notícias da resistência. Foi um passo que, até então, o governo não havia dado e que agora lhe permitirá agir de forma mais enérgica contra as manifestações.
Por isso mesmo, esta segunda-feira passa a ser um dia importante, já que estava convocada uma nova marcha que transcorreria pela manhã. A mobilização vem crescendo, enquanto que as convocadas pela ditadura – chamadas pelo povo de “marchas dos perfumados” – vêm perdendo força, até desaparecerem das ruas. É um grande feito da resistência ter triunfado nas ruas e seguir crescendo. O 15 de Setembro significou um salto ao reunir dezenas de milhares de pessoas, enquanto o regime ficou apenas com um desfile militar.
A pergunta que muitos fazem é por que a ditadura tomou essas medidas agora. Parece que com elas, está usando seus últimos cartuchos para fechar o cerco contra a resistência. Agora, a mobilização está frente ao desafio de superar o Estado de sítio. Se conseguir, mostrará uma nova fragilidade dos golpistas, e abrirá de forma mais nítida e aberta a batalha final por sua derrocada.
Tudo indica que há condições para fazê-lo, é isso que dá a entender. O que é certo é que tudo se acelera. O regime tem outro problema que se soma à resistência e ao isolamento internacional: sua situação econômica se deteriora. Por esses dias, terá que pagar os salários dos funcionários públicos e não conta com verba para tal, ao mesmo tempo, a economia dá sinais de colapso. E é isso que pode explicar as últimas que tem tomado.”