É com muita revolta e indignação que nós do MEPR prosseguimos na denúncia do assassinato de mais duas lideranças camponesas no Estado de Rondônia. A tortura, a perseguição política, a repressão sangrenta e a morte, que muitos dizem extinta no nosso país, que muitos dizem fazer parte do museu chamado “ditadura” militar, tudo isso faz parte ainda hoje do cotidiano do povo em luta e é condição mesma da manutenção de um regime de traição nacional e exploração furiosa das massas operárias e camponesas como este que as classes dominantes reacionárias tentam pintar como “democracia”.
O seqüestro, a tortura e o assassinato covardes de Gilson Gonçalves e Elcio Machado (Sabiá), por pistoleiros pagos pelo latifúndio e acobertados e assanhados pelo velho Estado, é mais uma prova inconteste de que o que existe no nosso país na realidade é a mais brutal repressão sobre os movimentos populares em geral, e camponês em particular, num quadro geral de crescimento da miséria e agravamento da crise do capitalismo burocrático no país.
A questão agrária e o Estado burguês-latifundiário:
No Brasil o monopólio da terra confunde-se, funde-se mesmo, com o poder político e estatal de maneira geral, talvez como em lugar algum do mundo. Não iremos sequer entrar no aspecto da concentração fundiária propriamente dito, que como demonstra o último censo agropecuário AUMENTOU sob o governo oportunista e assassino de Luís Inácio. O índice GINI, convenção internacional utilizada para medir a concentração fundiária, quantifica esta numa escala que vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, pior, ou seja, maior o grau de concentração. Pois bem: em 1985 esse índice (já altíssimo) era de 0,857; em 1995 era de 0,856 e agora, sob o governo “democrático-popular” do PT tal índice saltou para 0,872, o pior em mais de 20 anos! Isso, detalhe, apontado em um censo agropecuário que não recua ante artifício algum para, digamos, “maquiar” a realidade...
Mas mantenhamo-nos no aspecto político da questão.
Muito se fala em nome da tal “democracia” em “independência dos três poderes”. É claro e evidente que não há quem seja sério que acredite neste verdadeiro conto de fadas. Somente o exemplo recente do caso Batisti é, digamos, suficiente para ilustrar o que dizemos. Mas continuemos. Esses “poderes” (na verdade só existe um único poder no país, assentado na dominação da classe da grande burguesia e do latifúndio à serviço do imperialismo) são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Pois bem. Quem é a figura “máxima” (mínima se utilizarmos qualquer critério moral) do Judiciário, quem é o presidente da “Suprema Corte”? Gilmar Mendes. E quem é Gilmar Mendes? Um latifundiário, proprietário de vastas extensões de terra no Mato Grosso. Alguém mal-informado pode pensar que isto é fruto do nosso ódio a essa figura abjeta e degradante, uma mistura asquerosa de ignorância e reacionarismo. Sim, nós o odiamos, como todo brasileiro honesto. Mas quem diz isso não somos nós. Num bate-boca entre Gilmar Mendes e outro ministro do STF, Joaquim Barbosa, que foi amplamente reproduzido pelos meios de comunicação, disse Barbosa:
“Vossa Excelência me respeite(...) Vossa Excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso”.
Não é à toa que foi inaugurado no dia 04 último, em Santarém, no Estado do Pará, o “mutirão fundiário”, que tem como objetivo agilizar os processos de reintegração de posse de latifúndios ocupados. Para o lançamento de tal mutirão estava lá presente o excelentíssimo cowboy Gilmar Mendes. Aonde a “Justiça” quando companheiros que lutam por um pedaço de chão para viver são torturados e assassinados? Aonde? Aonde o “Estado de direito”? Quem neles acredita que explique. A única justiça na qual acreditamos é a que as massas fazem com as suas mãos, no curso tempestuoso da construção da história!
Quanto ao “Poder Legislativo”, convenhamos, não é necessário muito esforço para demonstrar que também aí o latifúndio jamais saiu do centro de poder. Quem são Sarney, Jader Barbalho, Collor, Renan Calheiros, apenas para ficar em alguns “ilustres”, todos tropa de choque do governo do PT? E a tal “bancada ruralista”, que conta com um terço das cadeiras?
Quanto ao “Poder Executivo”...Tomemos o Bolsa-Família, carro-chefe da campanha eleitoral permanente e ultra-demagógica de Luis Inácio pelo país, símbolo da compra de votos institucionalizada e da corporativização fascista-assistencialista do povo pobre. O recurso é do governo federal, mas por acaso o prezado leitor sabe quem gere esse recurso, quem o concentra e distribui? As prefeituras, os governos municipais. E o que é a figura do prefeito, no Norte e Nordeste principalmente, senão do velho coronel, figura típica da politicalha oficial imunda do nosso país? Basta lembrar que o conceito de cidade no Brasil não é uma avaliação econômica ou populacional. Cidade no Brasil é toda sede de município, pura e simplesmente, critério adotado pelo IBGE durante o Estado-Novo fascista de Vargas e jamais alterado. E o tal Bolsa Família nada mais faz que depositar dinheiro (mais onde o político local apóia o governo federal, claro) nas mãos dos velhos donos das cidades interioranas para que assim eles mantenham tranqüilamente o seu secular curral eleitoral. Reforça o coronelismo, o clientelismo, no melhor estilo “República Velha”, portanto.
Ao olharmos o que tem sido a “reforma agrária” do governo do PT somos obrigados a concluir, se mínimamente honestos, que essa nada mais tem sido que a capitalização dos latifundiários (quando muito) e a repressão desenfreada sobre o movimento camponês combativo.
Ano | 1999 | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 |
Conflitos | 983 | 660 | 880 | 925 | 1690 | 1801 | 1881 | 1657 | 1538 | 1170 |
Mortes | 27 | 21 | 29 | 43 | 73 | 39 | 38 | 39 | 28 | 28 |
Estes números indicam um aumento ininterrupto da “violência no campo” (eufemismo para tentar descaracterizar a responsabilidade do sistema latifundiário e seus exércitos particulares) entre os anos de 2001 e 2005, e que durante o governo do PT não houve nenhuma reforma agrária mas, pelo contrário, um aumento da repressão sobre os camponeses. Não é necessário ser um profundo conhecedor da questão agrária para concluir o óbvio de que um Congresso dirigido por Sarneys, Collors, Barbalhos e asseclas jamais aprovará uma medida sequer contra a classe que eles representam (a classe dos latifundiários, claro está) e nenhum governo apoiado diretamente nessas figuras tentará a eles se opor.
Não bastassem esses dados da própria CPT, o índice que verifica o aumento da concentração fundiária, a expansão da soja e da cana-de-açúcar até a fronteira da Amazônia, o aluguel de milhões de hectares desta para o “agronegócio”, o Sr. Luis Inácio teve ainda o desplante de declarar solenemente que os usineiros eram os verdadeiros “heróis nacionais”. Imaginem!
Tanto é assim que numa ação coordenada do governo federal com o governo da canalha Ana Júlia Carepa, também do PT, no Estado do Pará, foi realizada a maior operação de guerra desde a guerrilha do Araguaia intitulada, curiosamente, “Operação Paz no Campo”. Tal operação, que contou com a cobertura sensacionalista e policial dos monopólios de imprensa, terminou com vários camponeses presos, torturados e já teve 13 lideranças camponesas da região assassinadas desde então. Em novembro último o coordenador do MST no Pará, Charles Trocate, teve decretada a prisão a pedido da Polícia Civil (na verdade pela governadora e sua corja de latifundiários, dentre eles Daniel Dantas e o filho de Lula, “Lulinha”, proprietários de dezenas de milhares de cabeças de gado no Sul do Pará).
Agora assistimos a mais esse bárbaro crime, o brutal assassinato cometido contra os companheiros Gilson Gonçalves e Elcio Machado (Sabiá) em Rondônia, na região da Amazônia ocidental. Segundo esta mesma pesquisa da CPT que citamos mais acima, publicada em abril deste ano, 72% dos assassinatos em decorrência de conflitos agrários ocorridos no Brasil em 2008 se concentraram na Amazônia. Estes dados da CPT, não obstante, são ainda claramente subestimados. Ora, desde a conclusão da Operação “Paz no Campo” morreram 13 lideranças que haviam participado diretamente da tomada da Fazenda Forkilha, que resultou naquela operação. Mas a CPT diz que em todo o Estado do Pará, verdadeiramente conflagrado por uma aguda luta entre camponeses e latifundiários, houve em todo o ano de 2008 13 assassinatos. As estatísticas, como vimos, embora suficientemente brutais, mostram-se sempre flexíveis para baixo, portanto.
O caminho é a revolução!
O assassinato, a perseguição e prisão política de lideranças e ativistas do movimento camponês são, podemos ver, fatos incontestáveis e o velho e reacionário Estado brasileiro não apenas se omite como também é partícipe e protagonista desta guerra em meio a qual os camponeses brasileiros são lançados pela sanha repressiva que objetiva manter o caquético e moribundo sistema latifundiário brasileiro.
Crimes bárbaros como esse são rotina, tragédias anunciadas que acontecem no nosso território já há mais de cinco séculos. É necessário lutar portanto sem quartel contra aqueles verdadeiros contrabandistas que fream as lutas do nosso povo tentando fazê-lo crer nas “santas instituições”, no “Estado de direito”, etc., sendo obrigatório perguntar que direito é esse, ou melhor, de quem é esse direito, a quem ele serve, quem, que classes detém o Poder em nosso país? Assim posta a questão é realmente difícil tentar sobrepassa-la.
A chamada “grande imprensa”, na verdade imprensa monopolista, pequena se o critério for o compromisso com a verdade, é a que enche páginas e páginas para falar sobre “democracia”. Em nome de defender o “Estado de direito” o anão jornalístico Alan Rodrigues, da porcalhona revista Isto É, lançou no princípio de 2008 uma matéria acusando a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia de “fazer guerrilha” no Brasil, e na oportunidade atacou também a nós do MEPR. Pois bem. Quiséramos perguntar a esse sujeito quantas palavras ele escreveu sobre os companheiros assassinados após o desfecho da operação “Paz no Campo”, quantas linhas esse vendido, que prostitui a sua profissão em troca de alguns vinténs, escreveu ou escreverá sobre a tortura e a execução dessa gente honesta, trabalhadora que com sua militância buscava um futuro mais digno para si e para seus irmãos de luta. Quantas palavras Sr. Alan Rodrigues, quantas linhas?!Essa é a “imprensa”, “arauto da democracia brasileira”, que tem a coragem de dizer-se “imparcial”. Imaginem...
Exigimos a punição do latifundiário Dilson Caldato e de seus bandos armados, exigimos justiça! Mas sabemos e entendemos que o principal responsável, quem mais tem mãos sujas de sangue de gente pobre é o velho Estado brasileiro, expressão histórica da aliança reacionária entre a grande burguesia e o sistema latifundiário, serviçais do imperialismo. Pretender reformar esse Estado é tão impossível quanto derrubar uma parede com pratos de vidro; o que se exige é derruba-lo, demoli-lo. Opor à aliança reacionária da grande burguesia e do latifúndio, base interna do capitalismo burocrático que sangra nosso país, a aliança revolucionária da classe operária e do campesinato, base da revolução de Nova Democracia, única capaz de libertar definitivamente as massas de milhões e milhões de explorados e oprimidos.
A juventude estudantil sempre cumpriu e continua a cumprir um importante papel na formação da Frente Única Revolucionária que apoiará e participará ativamente desta luta. Não podemos ter dúvidas quanto a isso. Esse tem sido o papel histórico cumprido com ardor pela juventude até aqui, esse é o papel que ela seguirá cumprindo daqui em diante.
ABAIXO A CRIMINALIZAÇÃO DO MOVIMENTO CAMPONÊS!
COMPANHEIROS ÉLCIO E GILSON: PRESENTE!
Punição ao latifundiário Dilson Caldato e seus bandos armados!
MORTE AO LATIFÚNDIO! VIVA A REVOLUÇÃO AGRÁRIA!
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